Fazendo análise do texto “O modelo dos modelos” de Ítalo Calvino
Para Refletir!
Por que olhar por
partes, sem antes compreender o todo? Porque enxergar a deficiência, antes
mesmo de saber mais sobre aqueles que não andam, não enxergam ou não ouvem?
Porque apontar o que o outro não pode fazer, antes de perguntar o que ele tem a
oferecer?
O texto "O modelo dos modelos” de Ítalo Calvino, logo no
início nos faz refletir: “Houve na vida do senhor
Palomar uma época em que sua regra era esta: primeiro, construir um modelo na
mente, o mais perfeito, lógico, geométrico possível; segundo, verificar se tal
modelo se adapta aos casos práticos observáveis na experiência” nos remete a
questão de uma educação que era baseada
somente em modelos ideais, em pessoas “iguais”, “perfeitas”. Podemos fazer relação com a questão da
Integração x Inclusão. O
conceito de integração se referia à necessidade de modificar a pessoa com deficiência
de maneira que esta pudesse vir a se identificar, com os demais cidadãos, para
então poder ser inserida, associada, a convivência igualitária em sociedade e
na escola. As pessoas com deficiência são cidadãos como quaisquer outros,
possuidores dos mesmos direitos e com as mesmas regalias quanto às
oportunidades disponíveis na sociedade, involuntariamente do tipo de
deficiência e do grau de comprometimento que apresentem. A pessoa com
deficiência tem direito ao convívio não segregado e ao ingresso e acesso
imediato aos recursos disponíveis e facilitados aos demais cidadãos.
Logo em seguida há
uma mudança em seu discurso: “A regra do senhor Palomar
foi aos poucos se modificando: agora já desejava uma grande variedade de
modelos, se possível transformáveis uns nos outros segundo um procedimento
combinatório, para encontrar aquele que se
adaptasse melhor a uma realidade que por sua vez fosse feita de tantas
realidades distintas, no tempo e no espaço”.
Comparando o texto com o papel do AEE fica claro que a
educação inclusiva vai além de modelos prontos, pessoas ideais e perfeitas, deve-se pensar em uma educação capaz de
reconhecer as diferenças entre as pessoas. Nesse sentido o papel do AEE deve ser de colaborar com esse
olhar de reconhecimento das diferenças em oposição ao aluno idealizado, por
turmas homogeneizadas, pois situações como essas produzem exclusão, que
prejudica a trajetória de muitos alunos e principalmente do aluno público alvo
da educação especial. Segundo o MEC(2008) o Atendimento Educacional Especializado – AEE é
um serviço da educação especial que "[...] identifica, elabora e organiza
recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a
plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas"
(SEESP/MEC, 2008).
Ainda segundo o autor: “Neste ponto só restava a Palomar apagar
da mente os modelos e os modelos de modelos. Completado também esse passo, eis
que ele se depara face a face com a realidade mal padronizável e não
homogeneizável, formulando os seus “sins”, os seus “nãos”, os seus “mas”. Para
fazer isto, melhor é que a mente permaneça desembaraçada, mobiliada apenas com
a memória de fragmentos de experiências e de princípios subentendidos e não
demonstráveis. Não é uma linha de conduta da qual possa extrair satisfações
especiais, mas é a única que lhe parece praticável”.
Trazendo esse exemplo para dentro do
contexto do sistema educacional, mais especificamente para a sala do AEE, na
qual se destina a alunos com deficiência, é importante frisar que cada aluno
tem suas especificidades, que são diferentes, que aprendem de maneira
diferente, cada um com seu ritmo e que devem ser respeitados. Construir modelos
padronizados passa a ser uma espécie de exclusão haja vista que é necessário
compreender o todo para depois entender as partes.
Nesse sentido o papel do professor de AEE é de grande
importância pois deve desenvolver um
trabalho que abrange todas as instâncias da escola, equipe
diretiva e pedagógica, os professores da sala comum, a família e
principalmente os alunos da sala regular com os alunos atendidos na SRM. Tendo como
principal objetivo desenvolver nos alunos estímulos indispensáveis ao pleno
desenvolvimento, através de recursos pedagógicos, tecnológicos e educativos,
contribuindo de forma significativa para a independência e autonomia, quebrando
com as barreiras da exclusão e lutando por uma educação realmente inclusiva.
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